Dia mundial da poesia

Há algo de poético e místico em muitas das vezes que enfrento o Mar na busca predadora por um dos seres que o habitam. Posso não o saber explicar mas poetas há que o fizeram de um modo magnífico e, em especial para aqueles que como eu conseguiram passar por essa experiência, aqui deixo uma verdadeira ode a esse sentimento único.

Sonho

“Sei agora que Deus rola nas ondas
vem na última onda ei-lo na espuma
é reflexo brilho incadescência.
Se vou à pesca é para o procurar
se lanço a linha é para ver se o pesco
quando pesco um robalo eu pesco Deus
e é com ele que falo em frente ao mar
ele é o seixo a alga o vento leste
a nuvem que lentamente cobre a lua
ele é a minha dispersão e a minha comunhão
o fragmento da estrela que se vê ainda
a tainha que salta
ele é o grão de areia e a imensidão da noite
o finito e o infinito
vai na corrente corre-me no sangue
não sei que nome dar-lhe
digo Deus
ele é o laço que me prende e me desprende
o que palpita em mim e o que em mim morre
vem na sétima onda e bate no meu pulso
ele é o aqui o agora o nunca mais
a morte que está dentro
rola na onda
bate na sétima costela do meu corpo
chamo-lhe Deus porque ele é o tudo e é o nada
eternidade que não dura sequer o eu dizê-la
ei-lo na espuma na lua no reflexo
de repente um esticão a cana curva-se
é talvêz um robalo de seis quilos
isto é a pesca
o meu falar com Deus ou com ninguém
sózinho frente ao mar.”

À Pesca

“Ele é o vento a noite a solidão
o robalo que luta contra a morte
e é a minha ligação magnética com Deus
esse umbigo do mundo
que rola sobre as ondas e cai do firmamento
com sua espuma e sua luz e sua noite
chamo-lhe Deus porque não sei como o chamar
ao meu ser e não ser
de noite junto ao mar
quando regulo a amostra e sua fluorescência
pescando robalos
ou talvêz Deus
e sua ausência.”

Manuel Alegre – Senhora das Tempestades

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